No dia 2 de fevereiro, dia de Yemanjá, a cidade de Belo Horizonte será palco de uma das mais significativas manifestações culturais e religiosas da matriz africana: a 12ª edição do Presente Ecológico de Iemanjá. O evento, que acontecerá na Praça Iemanjá, localizada no Portal da Memória – Monumento a Iemanjá da Lagoa da Pampulha, é organizado pelo Afoxé Bandarerê, em parceria com a Nzo Jindanji Kuna Nkosi e a Ngoma Produções.
Tradição e significado
O Presente de Iemanjá representa o ápice de uma série de rituais litúrgicos realizados nos terreiros de candomblé. É um momento sagrado de devolução simbólica da energia às águas, marcando um ciclo de renovação e equilíbrio espiritual. Marcio Kamus’ende, fundador do Afoxé Bandarerê e membro do terreiro Nzo Jindanji Kuna Nkosi, destaca a importância histórica da celebração.
“Essa prática vem de gerações. Meu pai, Tat’etu Nepanji, já realizava o Presente de Iemanjá na Lagoa da Pampulha, mas, devido a imposições da diocese local, o evento ocorria em agosto, no dia da padroeira de Belo Horizonte. Quando o Afoxé Bandarerê surge, lutamos para que a celebração fosse realizada no dia 2 de fevereiro, como acontece em outras regiões do Brasil. Trazer o evento para essa data é um ato de resistência e alinhamento com a ancestralidade.”
A força de Iemanjá em terras mineiras
Para Nengua Monasanje, mãe de santo da Nzo Jindanji Kuna Nkosi e diretora litúrgica do Afoxé Bandarerê, coordenar os processos litúrgicos do evento é uma honra especial. “Estamos referenciando nossa grande mãe, que cuida de nossas cabeças e sentimentos. Iemanjá nos dá a saúde emocional necessária para enfrentarmos os desafios da vida e buscarmos nossos objetivos”, explica.

Tata Kamus’ende complementa a visão sobre a divindade: “Ela é a mãe de todos nós, simbolizando proteção, acolhimento e força. Sua saia é o oceano, e nós somos seus peixes. Mesmo aqui em Minas Gerais, onde não há mar, ela é reverenciada. No continente africano, de onde vieram nossas tradições, Iemanjá também é cultuada como divindade das águas doces. Onde há água, há vida, e onde há vida, há Iemanjá.”
Compromisso com o meio ambiente
O caráter ecológico do evento reforça o compromisso com a preservação ambiental. “No candomblé, cultuamos as forças da natureza e entendemos que preservá-las é o nosso dever. A água é a essência da vida e, por isso, todo presente deve ser ecológico. Estamos devolvendo às águas aquilo que é sagrado, sem causar danos ao meio ambiente”, destaca Tata Kamus’ende.
Programação cultural diversificada
Gabriel Lemos, diretor da Ngoma Produções e correalizador do evento, anuncia novidades para esta edição: “Preparamos uma estrutura completa, com tendas, banheiros, venda de comidas e bebidas, além de uma surpresa especial que tenho certeza de que o público vai adorar.”
Entre as atrações confirmadas estão:
- A banda do Afoxé Bandarerê, com participações de Andreia Roseno (Makota Kianjenu), Anárvore (Muzenza Maímbê), Maíra Baldaia (Muzenza Muximadan) e Juçara (Muzenza Ntala)
- O Bloco Então, Brilha!
- O projeto Ofaínan: Heranças e Andanças, de Bruno Odessi
- DJ Camis com sua Black Music
- Ekedi Nicinha, o Rouxinol da Bahia
- Iyálòrìsà Vânia de Oyá, do Ilê Asé Kalé Bokun
- Baba Dofono de Omolu
- A cantora Adriana Araújo
- A banda Swing Safado
O evento é realizado com financiamento do Edital Múltiplas Artes e Culturas (Lei Paulo Gustavo – Projeto 90581/2023) e conta com o apoio do Mandato Popular da Vereadora Iza Lourença.
Serviço
O quê: 12º Presente Ecológico de Iemanjá
Quando: 2 de fevereiro de 2025, a partir das 13h
Onde: Praça Iemanjá, Lagoa da Pampulha (Av. Otavílio Negrão de Lima, 260, Belo Horizonte)
Entrada: Gratuita
Foto Capa: Luiz Rocha e Leonardo Rocha