Na região metropolitana de Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, uma enorme cratera aquática de 234 metros de profundidade é considerada o lago mais profundo do Brasil. Local da Mina de Águas Claras.
O Lago de Águas Claras, como foi chamado o corpo d’água, não é, no entanto, uma formação geológica
convencional, mas um legado da história de Minas Gerais com os empreendimentos de mineração de longo período histórico que correspondem, hoje, a 9% do PIB estadual. A gênese do lago mais profundo do Brasil, cujo volume total é de cerca de 58 milhões de metros cúbicos, distribuídos em uma área de 0,67 km², é industrial: ele nasceu da exaustão de uma mina de ferro explorada entre 1973 e 2001 como empreendimento da empresa Minerações Brasileiras Reunidas (MBR). Minas de Águas Claras, antigo local de extração mineradora que, após abandonado, transformou- se no “lago mais profundo do Brasil”.
A exaustão da mina de Águas Claras (a perda de seu valor de exploração ao longo do tempo) levou à abertura da cratera, que foi gradualmente preenchida pelas chuvas e pelas inundações de águas subterrâneas vindas do Ribeirão da Prata, curso d’ água que nasce na Serra do Gandarela e deságua no Rio das Velhas, localizado no município mineiro de Raposos.
A geologia do lago, como conta um estudo coordenado por Eduardo von Sperling, professor titular do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), reflete sua história minerária: escavada em rochas ricas em ferro, típicas da formação regional do Quadrilátero Ferrífero, o lago concentra altas quantidades de metais (como o próprio ferro e o manganês).
As paredes do lago, íngremes e rochosas, têm características meromíticas, isto é, suas camadas de
água não se misturam por completo e geram zonas com oxigenação e temperaturas distintas. O estudo liderado por von Sperling, dedicado a medir a qualidade da água no lago formado por uma cratera de mineração, surpreende: contrariando as expectativas iniciais acerca do estado da água (invadida por metais ferrosos e pela formação antinatural do lago), ela é, na verdade, boa, e estudos realizados entre 2001 e 2003 revelaram que tem:
- Quantidades altas de oxigênio dissolvido (que geram
boas condições para o desenvolvimento de vida
aquática); - PH alcalino (entre 6,9 e 9,2, típico de ambientes
aquáticos não poluídos); - Baixa presença de poluentes orgânicos ou minerais;
- Baixos níveis de contaminação por bactérias.
“O prognóstico favorável com relação à qualidade da água no lago de Águas Claras permite indicar como prováveis usos para o futuro ambiente as atividades de recreação”, conclui o estudo.
A análise mostra que o corpo d’água pode ser usado, no futuro, para “atividades como natação, pesca, vela, harmonia paisagística e, caso necessário, abastecimento de água para comunidades vizinhas”.